VESTIDO DE NOIVA por Nelson Rodrigues.
Ronye Márcio Cruz de Santana
RESUMO
Nelson Falcão Rodrigues nasceu em
Recife e morre no Rio de Janeiro foi um jornalista e escritor tido como o mais
influente dramaturgo brasileiro. Foi repórter policial durante longos anos, de
onde acumulou uma vasta experiência para escrever suas peças a respeito da
sociedade. Sua primeira peça foi A Mulher sem Pecado, que lhe deu os primeiros
sinais de prestígio dentro do cenário teatral. O sucesso mesmo veio com Vestido
de Noiva, que trazia, em matéria de teatro, uma renovação nunca vista nos
palcos brasileiros. Com seus três planos simultâneos (realidade, memória e
alucinação construíam a história da protagonista Alaíde), as inovações
estéticas da peça iniciaram o processo de modernização do teatro brasileiro. A
consagração se seguiria com vários outros sucessos, transformando-o no grande
representante da literatura teatral do seu tempo, apesar de suas peças serem
taxadas muitas vezes como obscenas e imorais.
INTRODUÇÃO
A peça de Nelson Rodrigues é uma obra inigualável, pois é
recheada de suspense e um alto teor de dramaticidade e de uma construção
surpreendente entre vários planos que se constitui em uma única história a de
Alaíde.
O enredo do drama é algo inovador pelo fato de trazer
personagens que estão presente no cotidiano de qualquer um. A genialidade do
autor é representada pelo fato de que a história é contada e encenada em três
atos e tem como peno de fundo a metrópoles – Rio de Janeiro – no qual o autor
nos traz à tona toda imoralidade das capitais e as máscaras sociais que são
desvendadas e discutidas pelas personagens durante a peça inteira.
No enredo, podem-se perceber as relações de poder e de
dominação marcadas pela presença da manipulação da personagem Lúcia pelo marido
de Alaíde, que o tempo todo fica de observador da própria ação tomada por ambas
e como o desfecho acontece para depois ele tomar a decisão do que é conveniente
a ele.
O teatro de Nelson é recheado de temas voltado para
problemas sociais dentre elas a traição e o adultério. O tema é recorrente em
toda peça teatral em que demonstra a paixão e a fantasia de Alaíde pela vida de
Mme Clessi uma meretriz que ela teve acesso por meio de um diário que ela
encontrou em sua casa que antes pertencia a Clessi.
O diário na mão de Alaíde despertou nela o desejo de poder e
de sedução que ela passou experimentar esse poder tomando e seduzindo os
namorados da irmã, que é Lúcia, que passa a tramar a morte da irmã com o
cunhado para poderem viver o amor deles, contudo por conta do acidente deixa
mais próximo a realização do sonho dos dois em viverem juntos.
O autor no ápice de sua criação demoNstrou que no período
modernista podia se encontrar promissores escritores de peça teatrais com o
mesmo teor dramático e recheado de suspense e de tramas conspiratórias.
CITAÇÕES
- PRIMEIRO ATO
3ª MULHER - Sei lá! (noutro
tom) Vem aos sábados.
ALAÍDE (aterrorizada) - Tem
o rosto do meu marido. (recua, puxando a outra) A mesma cara!
3ª MULHER - Você é casada?
ALAÍDE (fica em suspenso) -
Não sei. (...) (p. 02)
3ª MULHER (para Alaíde) -
Isso é aliança?
ALAÍDE (mostrando o dedo) -
É.
3ª MULHER (olhando) -
Aliança de casamento
2ª MULHER - A da minha irmã
é mais fina.
3ª MULHER (céptica) - Grossa
ou fina, tanto faz. (dá passos de dança) (...) (p. 02)
ALAÍDE (modificando a
atitude inteiramente) - Não, não sou nova. Não tinha me visto ainda?
O HOMEM (sério) - Não.
ALAÍDE (excitada, mas
amável) - Pois admira. Estou aqui - deixe ver. Faz uns três meses... (...) (p.
02-03)
ALAÍDE (doce) - Viu como eu
disse - "meu amor"! Eu direi outras vezes - "meu amor" - e
coisas piores! Madame Clessi está demorando! (noutro tom) Mas ela morreu mesmo?
(...) (p. 03)
(Luz no plano da memória.
Aparecem pai e mãe de Alaíde.)
PAI (continuando a frase) -
...numa orgia louca."
MÃE - E tudo isso aqui?
PAI - Aqui, então?! (...)
(p. 03)
CLESSI (forte) - Quer ser
como eu, quer?
ALAÍDE (veemente) - Quero,
sim. Quero.
CLESSI (exaltada, gritando)
- Ter a fama que tive. A vida. O dinheiro. E morrer assassinada? (...) (p. 04)
ALAÍDE - Não disse? Mas se
eu fugisse, se me transformasse numa Madame Clessi?
PEDRO - Sei lá, Alaíde! Sei
lá! (...) (p. 06)
ALAÍDE (ficando de costas) -
Gosto de outro.
PEDRO (apreensivo) - Alaíde!
Olhe o que eu lhe disse!
ALAÍDE (acintosa) - Gosto,
sim. Gosto de outro. Que é que está me olhando? (...) (p. 07)
PARECER
No plano da alucinação, tanto no da memória fica evidente o
princípio de traição de Alaíde, ou no mínimo o desejo de trair o seu marido,
contudo o que se vai elucidando é a traição de Alaíde em relação à irmã, pois
Pedro era noivo de Lúcia que foi seduzido pela irmã se entregando e conseguindo
roubar o noivo por meio da luxúria e do prazer.
Ao mesmo tempo em que ela deseja trair, mas a traição de
Alaíde fica elucidada na peça no campo da alucinação, quando ela sempre enxerga
o rosto do marido no rosto de todos os homens. Outro fator que reforça esse
desejo é quando a Mme Clessi questiona se ela quer ser como ela, e Alaíde
categoricamente, afirma que sim reforçando a ideia de traição. Em outro trecho
a personagem conversa com o marido, no qual ela revela a intenção de adulterar,
porem fica no campo de intenção presumindo sua traição por meio do desejo.
CITAÇÃO – SEGUNDO ATO
MULHER DE VÉU (excitada) - Então você pensa que podia
roubar o meu namorado e ficar por isso mesmo?
ALAÍDE (entre suplicante e intimativa) - Você não vai
fazer nada! (...) (p. 10)
MULHER DE VÉU - Quer dizer que não sabia que eu estava
namorando Pedro?
ALAÍDE (mais indignada) - Aquilo, "namoro"?!
Um flirt, um flirt à-toa!
MULHER DE VÉU (mais indignada) - Você quer dizer a mim
que foi flirt. Quer-me convencer?
ALAÍDE (teimosa) - Foi.
MULHER DE VÉU (violenta) - E aquele beijo que ele me
deu no jardim também foi flirt?
ALAÍDE - Sei lá de beijo! Que beijo?
MULHER DE VÉU - Está vendo como você é? Viu tudo! Você
apareceu no terraço e entrou logo. Mas viu!
ALAÍDE (desesperada) - Eu não admito que você venha
recordar essas coisas! Ele é meu noivo!
MULHER DE VÉU (perversa) - Viu ou não viu? (...) (p.
10)
MULHER DE VÉU (patética) - Pelo menos, nunca me casei
com os seus namorados! Nunca fiz o que você fez comigo: tirar o único homem que
eu amei! (com a possível dignidade dramática) O único!
ALAÍDE - Não tenho nada com isso! Ele me preferiu a
você - pronto!
MULHER DE VÉU - Preferiu o quê? Você se aproveitou
daquele mês que eu fiquei de cama, andou atrás dele, deu em cima. Uma vergonha!
(...) (p. 11)
MULHER DE VÉU - Mas uma coisa só eu quero que você
saiba. Você a vida toda me tirou todos os namorados, um por um.
ALAÍDE (irônica) - Mania de perseguição!
CLESSI (microfone) - Então você tirou os namorados da
mulher de véu? (pausa para uma réplica de Alaíde que ninguém ouve) (...) (p.
11)
MULHER DE VÉU - Você roubou meus namorados. Mas vou
roubar o marido. (acintosa) Só isso!
ALAÍDE (numa cólera reprimida) - Vá esperando!
(Alaíde volta para o espelho e a mulher de véu atrás.)
MULHER DE VÉU - Você vai ver. (noutro tom) Não é
propriamente roubar.
ALAÍDE (irônica) - Então está melhorando. (...) (p.
12)
MULHER DE VÉU - Outra coisa: você está crente de que
ele é só seu, não está?
(Silêncio superior de Alaíde.)
MULHER DE VÉU - Está mais do que crente, é claro! Pois
olhe: sabe quem é esse namorado que eu arranjei? Tantas vezes vim conversar com
você sobre ele! Contar cada passagem, meu Deus! (com ironia) pois olhe: esse
namorado era seu noivo. Seu noivo, apenas!
ALAÍDE (cortante) - Mentira! Não acredito! (...) (p.
12)
PEDRO (curvando-se) - Um beijinho!
ALAÍDE (ainda olhando para o .espelho) - Você dá ou
pede?
PEDRO - Peço.
ALAÍDE (com dengue) - Assim estraga a minha pintura.
E, além disso... (Alaíde indica a mulher de véu.)
PEDRO (cínico) - Ela finge que não vê! (...) (p. 13)
MULHER DE VÉU - Tenho. (com perversidade) Tive. Ele
vai-se casar com outra.
PEDRO - Então o homem é um vilão autêntico!
MULHER DE VÉU - É.
ALAÍDE (sardônica) - Não faz mal. Ela gosta dele assim
mesmo.
MULHER DE VÉU - E gosto, sim. Ninguém tem nada com
isso! (...) (p. 14)
MULHER DE VÉU (com amargura) - Amigas, nós? Oh! meu
Deus! Como se pode ser tão cega! (noutro tom) Eu ir a esse casamento, quando eu
é que devia ser a noiva!
MÃE (em pânico) - Você está doida?
MULHER DE VÉU (violenta) - Eu, sim senhora, eu!
MÃE (suspensa) - Você gosta de Pedro! (pausa; as duas
se olham) Então é isso?
MULHER DE VÉU (sardônica) - A senhora pensava que
fosse o quê? (...) (p. 15)
CLESSl (doce) - Irmãs e se odiando tanto! Engraçado -
eu acho bonito duas irmãs amando o mesmo homem! Não sei - mas acho!...
ALAÍDE - Você acha?
CLESSI (a sério) - Acho. (...) (p. 16)
ALAÍDE - Eu queria ter amado um menino. O seu tinha 17
anos? (a outra confirma) Devia ser muito branco. (...) (p. 16)
VOZ DE LÚCIA (microfone, em crescendo) - Eu faço
escândalo. Se eu disser uma coisa que sei!... Não me desafie, Alaíde! Eu é que
devia ser a noiva! Você é um monstro! O único homem que eu amei! Nunca me casei
com os seus namorados! O que eu não tive foi seu impudor! ...
(Ave-Maria atenuada. De repente surge Lúcia, correndo,
vestida de noiva.)
LÚCIA - Pedro!
ALAÍDE - Você?
PEDRO - Ah, você, Lúcia! Até que enfim!
(Lúcia abraça-se a Pedro. Falam-se quase boca com
boca.) (...) (p. 17)
LÚCIA (desprendendo-se de Pedro, gritando, com o punho
erguido, como na saudação comunista) - Eu é que devia ser a noiva!...
ALAÍDE (excitadíssima, também com o punho erguido) -
Mentirosa! Sua mentirosa! Roubei seu namorado e agora ele é meu! Só meu!
LÚCIA (com o punho erguido) - Confessou. Até que
enfim! Pelo menos, diga, berre: "Roubei o namorado de Lúcia!!!..."
ALAÍDE (perturbada) - Não digo nada! Não quero! (...)
(p. 17)
PEDRO (comovido) - Sou o marido dessa senhora que está
sendo operada.
MÉDICO - Caso de atropelamento, não foi?
PEDRO (com angústia) - Sim, doutor. Foi atropelada na
Glória. Só ainda agora é que eu soube. (...) (p. 17)
PARECER
No segundo ato o drama da Mulher de véu é exposto no momento
em que Alaíde fica com crise de consciência por causa da presença constante dessa
figura, contudo o que se percebe no decorrer do discurso apoiado pela Mme
Clessi é que ela acaba descobrindo de a mulher é na verdade a sua irmã que a
julga pelos excessos de luxúria e de manipulação dos namorados dela, por conta
da forma infame que Alaíde vem fazendo durante todo o tempo em relação com os
namorados de Lúcia. Contudo a relação entre Pedro e Alaíde é um casamento de
fachada, em que sua relação é pautada na conveniência e não no amor, algo que
nenhum dos dois sente um pelo outro.
A Mulher de véu argumenta sobre o amor e que sente pelo
Pedro, porém um fator relevante é ela quer é mesmo se vingar de Alaíde que a
roubou e essa relação entre amor e poder é fortemente marcado pela premissa de
que uma pela honra renega o sexo e a outro pelo poder de sedução se entrega à
luxúria e aos prazeres. Partindo aí a manifestação das mascaras sociais e da
manipulação do ser pelo simples fato de dominar e cativar pelo prazer carnal.
Alaíde desde que se apossou de diário de Clessi passou a desejar essa vida de
prazeres e de luxo, em experimente a liberdade e a fluidez de vida. É no mundo
da alucinação que a personagem principal vive o superego do que na realidade
ela mantinha como escape no momento que ela conseguia se apoderar dos namorados
da irmã.
CITAÇÃO
– TERCEIRO ATO
LÚCIA (furiosa, punho erguido) - Diga bem alto, para
todo o mundo ouvir: "Roubei o namorado de Lúcia."
ALAÍDE - Digo, sim!
LÚCIA - Diga, quero ver!
ALAÍDE (em alto e bom som) - Roubei o namorado de
Lúcia!
LÚCIA (excitada) - Viu, Pedro! Ela disse! Não teve
vergonha de dizer!
ALAÍDE (agressiva) - Digo quantas vezes quiser!
PEDRO (cínico) - Briguem à vontade! Não faz mal! (...)
(p. 18)
ALAÍDE - Você sempre com esse negócio de tirou -
tirou! (num transporte) É tão bom tirar o namorado das outras. (irônica) Então
de uma irmã...
LÚCIA (vangloriando-se) - Você continua pensando que
ele é só seu?
ALAÍDE - Penso, não. É.
LÚCIA. - Já lhe disse que é de nós duas, minha filha!
Não quer acreditar - melhor!
PEDRO (para Lúcia) - Você não devia dizer isso! Alaíde
não precisava saber! (...) (p. 18)
ALAÍDE (patética) - Quando eu morrer, eles vão-se
casar, mamãe! Tenho certeza! (...) (p. 19)
CLESSI (chorando, despeitada) - Ashley pediu a mão de
Melânie! Vai-se casar com Melânie!
MÃE (saliente) - Se eu fosse você, preferia Rett
(noutro tom) Cem vezes melhor que o outro!
CLESSI (chorosa) - Eu não acho!
MÃE (sensual e descritiva) - Mas é, minha filha! Você
viu como ele é forte? Assim! Forte mesmo! (...) (p. 20)
CLESSI (sonhadora) - Tenho chorado tanto! (noutro tom)
Nunca tive um amor. É a primeira vez. A senhora, se já amou, compreenderá.
MÃE (perdendo a cabeça) - Indigna!
CLESSI (com a mesma doçura) - Eu sei que sou. Sei
(rindo e chorando) Se a senhora visse como ele se zanga, quando eu falo no
desembargador!
MÃE (tapando o rosto com a mão) - Meu filho metido com
uma mulher desmoralizada! Conhecida!
CLESSI (no mesmo tom de abstração, senta-se) - Então
quando eu boto dinheiro no bolso dele! (...) (p. 20)
ALAÍDE - Dá licença, Clessi? (para Pedro, de luto)
Então, meu filho? (beijam-se)
PEDRO (admirado, confidencial) - Quem é ela?
ALAÍDE (como quem se escusa) - Ah! É mesmo! Me esqueci
de apresentar! Clessi, Madame Clessi! Aqui, meu marido! (...) (p. 21)
ALAÍDE (exaltando-se) - Ela não é direita! E você é
"direito" - é? Você pensa que eu não sei de nada? Pensa mesmo?
PEDRO (espantado) - Não sabe o quê?
ALAÍDE (excitada) - Que você e Lúcia... (ameaçadora)
Sim, você e Lúcia! Andam desejando a minha morte! (...) (p. 21)
ALAÍDE - E nem digo - minha filha! Vou ter uma
aventura! Pecado. Sabe o que é isso? Vou visitar um lugar e que lugar!
Maravilhoso! Já fui lá uma vez! (...) (p. 21)
LÚCIA (sombria) - Só. Previa que ia morrer!
PEDRO (com certa ironia) - Isso também nós prevíamos.
LÚCIA - Você diz "nós"!
PEDRO (afirmativo) - Digo, porque você também previa.
(pausa) Previa e desejava. Apenas não pensamos no atropelamento. Só.
LÚCIA (com desespero) - Foi você quem botou isso na
minha cabeça - que ela devia morrer! (...) (p. 23)
PEDRO (sardônico) - Era louca por toda mulher que não
prestava. Vivia me falando em Clessi. Uma desequilibrada!
LÚCIA (revoltada) - Você deve estar bêbedo para falar
assim!
PEDRO (sério) - Ou louco... (grave) Não tenho o menor
medo da loucura. (...) (p. 24)
PAI (microfone) - Que é que há com Lúcia e Pedro?
MÃE (microfone) - Que eu saiba, nada. Por quê?
PAI (microfone) - Você não viu ontem?
MÃE (microfone) - Aquilo?
PAI (microfone) - É. Foi esquisito.
MÃE (microfone) - Talvez tenha sido sem querer.
PAI (microfone) - Sem querer coisa nenhuma. (...) (p.
24)
LÚCIA - Aperta bem, mamãe.
LÚCIA - Está muito folgado aqui!
LÚCIA - Será que Pedro já chegou?
MÃE - D. Laura aparece, quando ele chegar.
LÚCIA (retocando qualquer coisa ao espelho) - Eu só
quero que ele me veja lá na igreja. (...) (p. 25)
PARECER
No último
ato Nelson Rodrigues discorre do fato dramático das personagens brigarem pelo
mesmo homem que não dá atenção para nenhuma das duas o que ele quer
simplesmente é poder possuir a Lúcia, pois ela negou se entregar e ele deseja
intensamente estar com ela, mas para isso ele tinha que se livrar da Alaíde. O
fato relevante é que Alaíde também acaba descobrindo que a mãe sabe das
intenções de Lúcia o que os pais não previam era que ela estava tramando a
morte de Alaíde.
No mundo da
alucinação de Alaíde a Mme Clessi discute com a mãe do seu amante que o garoto
de 17 anos, justamente o seu assassino, porém o que revela a intenção do garoto
é ter um amor eterno sendo selado pela morte e pela cumplicidade de ambos. Mais
adiante Lúcia e Pedro discutem sobre os modos de Alaíde e como ela se deixou
influenciar pelo diário de Mme. Clessi e o encanto que ele exercia sobre os
atos de Alaíde. Em relação à família os pais cogitam o flerte entre Lúcia e
Pedro e como isso poderia ser bom, pois manteria o status de poder e de influencia social.
PARECER CRÍTICO
A obra
Vestido de Noiva foi um marco no teatro brasileiro, pois trouxe a tona
prodígios na construção das artes cênicas no panorama social, pois vem recheado
das críticas sociais e das mascaras que cada um vem utilizando para construir a
sua personalidade no meio social em que se está inserido. O principal objetivo
de Nelson foi mostrar que a sociedade carioca também possui as suas mazelas e
que as utiliza para se esconder no bojo da ética e da moral, para que mostre a
todos que são iguais, comuns, no entanto um exemplo a ser seguido como
parâmetro social e moral.
Nelson
Rodrigues foi hábil no limiar da dramaticidade em relação as construções das
tramas dos personagens e dramático na linha cronológica da história de Alaíde
que sofre desde o acidente no início da peça e que perpassa por três dimensões
que vai da alucinação, memória e a realidade que é a forma como o marido a
despreza e como a família a descarta como fosse um peso a sua moralidade,
incentivando a Lúcia a se casar com Pedro para manter as convenções sociais em
que a família está inserida.
Enquanto
obra contribui para a compreensão das relações de poder e de sedução que estão
inseridas na sociedade. O autor desmascara cada camada social em relação a sua
problemática e como cada um se beneficia com as relações de dependência e de
manipulação de cada indivíduo. A obra traz à tona a relação e a distinção entre
adultério e traição, que é o caso de Alaíde quando traí a irmã, e o adultério
de Pedro com as prostitutas e com a Lúcia. Ainda na peça o escritor revela a
sua veia policial quando descreve a trama do planejamento de assassinato, da
conspiração da irmã e do marido e do apoio conivente da família por fechar os
olhos para a situação que estava ocorrendo e deixou tudo acontecer como algo
normal.
Esta obra
foi importante para o meu curso porque contribuiu para a construção da análise
de ideia e de percepção dos fatos sociais, e no seu estudo contribuiu para uma
consciência de liberdade da imaginação e de racionalidade da construção dos
fatos que nos cerca.
Enquanto
para a sociedade a peça foi relevante para desvendar as ideologias existentes
que há em todo nível social. E é nesse patamar que reconheço a importância da
peça Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues, pois terá o véu que encobre os
políticos, os empresários, os comerciantes e toda a aristocracia brasileira de
forma crua, direta e crítica.
Era tudo que
se esperava de Nelson, pois ele tinha uma veia crítica, política, jornalística
e, acima de tudo, denunciante dos sistemas sociais e da política partidarista.
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