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Em si mesmo, viver é uma arte
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É, simultaneamente, o homem:
O artista e o objeto de sua arte
Assim como: o escritor e a palavra.
Ronye Márcio

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terça-feira, junho 28, 2011

O currículo e a identidade escolar no processo de manipulação de uma sociedade nas bases da gestão compartilhada.

Ronye Márcio Cruz de Santana
ronyemarcio@hotmail.com.


RESUMO


Toda mudança só pode ocorrer quando há uma relação de cooperação mútua. A escola é responsável pelo pleno desenvolvimento pessoal e intelectual dos cidadãos da sociedade, pois a função do currículo é integrar assuntos que sejam de uma relevante importância para a comunidade local. A finalidade dela é desenvolver a capacidade plena dos indivíduos para que sejam críticos e auto-suficiente para garantirem suas necessidades em qualquer lugar no mundo.


PALAVRAS-CHAVE: Sociedade; Identidade Escolar; Gestão Participativa; Currículo.


ABSTRACT


Any change can only happen when there is a relationship of mutual cooperation. The school is responsible for full personal and intellectual development of citizens of the society, because the function is to integrate the curriculum subjects that are of significant importance to the local community. The purpose of it is to develop the full potential of individuals to be self-critical enough to ensure their needs anywhere in the world.


KEYWORDS: Society, School ID, Participatory Management, Curriculum.


1 INTRODUÇÃO


A identidade escolar permeia pelo princípio do currículo, no qual é gerenciada pela gestão escolar, em que há uma possibilidade para a transformação da sociedade no seu campo socioeconômico, refletindo, porém no campo sociopolítico, no entanto, a escola manipula a sociedade por meio do currículo, sobretudo os chamados currículos ‘ocultos’ que é a forma de mascarar como uma educação democrática e participativa, e atendendo os interesses da classe dominante, contudo essa mesma classe seleciona jovens para transmitirem os saberes para que possam continuar no poder e manter a sociedade submissa e controlada.

Essa divisão social, os governantes e os subordinados, compõem as estruturas do nosso país, por essa razão é que a escola deveria ter a função de transformar a sociedade, ao invés de mantê-la cativa de interesses próprios.

Ao se pensar em mudança devemos observar as perspectivas da gestão escolar e as implicações quanto à formação de seus gestores, em que se devem analisar os novos desafios de uma sociedade democrática por legislação, isto é, em si ela é participativa, política e cooperativa, no entanto ela é transformada pelas mídias sociais que deturpa o modo como as pessoas pensam e agem na sociedade, com isso podemos perceber que a escola é a brecha para a construção de um cidadão livre e crítico. Por essa vertente Heloísa Lück (2000) nos esclarece que:


[...] a mudança de concepção de escola e implicações quanto à gestão, as limitações do modelo estático de escola e de sua direção; a transição de um modelo estático para um paradigma dinâmico; a descentralização, a democratização da gestão escolar e a construção da autonomia da escola, e a formação de gestores escolares. (p. 11)


Como a própria Lück salienta é que a complexidade das partes está voltada para o interesse de uma única classe, e que os processos de construção de conhecimento se faz pela descentralização do poder da escola tornando-a autônoma, com isso conduzirá a sociedade a múltiplas mudanças no seu contexto social, econômico, político e cultural, por essa razão, que é fundamental compreender o processo de construção da realidade pelo modelo paradigmático e dinâmico.


É no contexto desse entendimento, que emerge o conceito de gestão escolar, que ultrapassa o de administração escolar, por abranger uma série de concepções não abarcadas por este outro, podendo-se citar a democratização do processo de construção social da escola e realização de seu trabalho, mediante a organização de seu projeto político-pedagógico, o compartilhamento do seu poder realizado pela tomada de decisões de forma coletiva, a compreensão da questão dinâmica e conflitiva e contraditória das relações interpessoais da organização, o entendimento dessa organização como uma entidade viva e dinâmica, demandando uma atuação especial de liderança e articulação, a compreensão de que a mudança de processos educacionais envolve mudanças nas relações sociais praticadas na escola e nos sistemas de ensino. (LÜCK, 2000, p. 16)


Com isso, pode-se garantir uma identidade voltada para uma gestão democrática e autônoma, fazendo com que a escola como instituição possa transformar a sociedade, fugindo do currículo voltado para as classes dominantes, para isso, basta que as questões teóricas e metodológicas de formação estejam em consonância com os interesses da sociedade local e a concepção no sistema de ensino estabeleça a formação política e social para os gestores articularem as práticas no processo de autonomia social e desenvolva uma consciência sociopolítica de cada cidadão.


2 O ensino e a aprendizagem da escola frente a uma sociedade globalizada.


A educação contemporânea, por mais que engatinhe está fadada ao ensino pobre e sem valor crítico para a construção de um cidadão consciente, visto que a sua didática curricular é moldada nos preceitos de uma elite que exige uma sociedade submissa e servil.

Os fundamentos curriculares são ditados pelo desejo de moldar a sociedade para o ingresso ao mercado de trabalho, desculpa esta que prioriza a falta de mão-de-obra qualificada e de cidadãos críticos, já que a escola funciona como aparelho ideológico do Estado, como mecanismo de manipulação pelos princípios laicos, construindo uma sociedade cética e manipulável, a utilizar apenas fundamentos teórico-pedagógicos para o domínio econômico e político.

A sociedade, por outro lado, deixa-se manipular pelos meios de comunicação, a gerar assim, pessoas alienadas e volúveis ao domínio do capitalismo. É no processo de transmissão de conhecimento e na sua apropriação que uma instituição, tanto escolar, quanto social pode formar uma organização mais eficaz, a atingir uma consciência crítica e política de que se precisa para desenvolver o mundo e não aliená-la ou dominá-la.

Ao embasar o livre conhecimento da sociedade e a eficiência do ensino no processo de aprendizagem para que os cidadãos sejam atuantes e tenham consciência ética, política e democrática consegue-se desenvolver em qualquer criança os preceitos de cidadania e democracia, porém tal mudança exige do ensino público uma estratégia que possa superar as barreiras dos domínios político-pessoais, dos técnico-empresariais e das ideologias das elites escravistas.

É primordial que a escola e a sociedade sejam co-irmãs, que ambas se coordenem, tenham uma união para que funcionem e consigam chegar a uma ideologia própria, e que essa cooperação desenvolva não só a sociedade, mas também o conhecimento técnico-científico embasada nos preceitos da sociedade em que está inserido.

Por essa razão é que no projeto Gestão Interna e externa: uma releitura das interações nas complexidades entre as partes, observa-se que:


É necessário que se tenha como princípio a participação e cooperação nos aspectos sociais e políticos em que compreenda a cidadania envolvendo assim o exercício de direito e dever políticos, bem como os civis e sociais abordando uma gestão cooparticipativa em que haja atitude de cooperação e, especialmente o repúdio às injustiças partindo do respeito próprio e ao outro, sendo assim o amor, a ética e o amor pela educação é essencial para que haja colaboração, cooperação, responsabilidade e compromisso de todos (...). (SANTOS, at all. 2011, p. 10)


Na perspectiva da gestão co-participativa trará mais ganhos para a sociedade e para a sociedade escolar, visto que essa irmandade trará uma colaboração e uma consciência de que o sistema de ensino é vital para superar as dificuldades e as mazelas que a sociedade enfrenta, por essa razão é que a igualdade de oportunidade tornar-se-á mais presente e real para os cidadãos que dela dependem para galgar uma vida mais digna e justa.

A gestão do conhecimento para a correciprocidade de desenvolvimento intelectual é reforçado quando Boneti diz:


Ao me referir ao conhecimento sociamente produzido, refiro-me ao conhecimento básico utilizado pelos sujeitos sociais na sua plena inserção no contexto social, quer seja na dinâmica da produção, na busca da garantia dos direitos sociais básicos, nas relações sociais outros ou na própria reprodução e/ou produção do conhecimento nas instituições de ensino. (2006, p. 226)


É na dinâmica da produção de conhecimento que toda uma sociedade se desenvolve, visto que com a compreensão da educação como instância política, podemos perceber que as diversas formas de gestão deveriam priorizar a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Ao analisar esse preceito Boneti diz que “a uma nova configuração de sociedade, a começar pela organização produtiva, desencadeando uma acelerada mutação tecnológica, fazendo com que o conhecimento tecnológico tenha uma durabilidade limitada, (...)” (2006, p. 213).

Nesse patamar de melhoria tanto social quanto educacional, como disse Boneti, está na dinâmica da sua própria elaboração, esta reporta a uma proposta de ensino voltado para a contemplação do conhecimento e a aprendizagem voltada para os múltiplos significados e interpretações.

A educação quando está presente no cotidiano da sociedade, ela demonstra a sua cultura frente ao mundo das mídias sociais que repercute diretamente na globalização e na produção técnica-científica, fator este que implica na manipulação da elite pelo processo de ensino e aprendizagem.

Ao se pensar nas estratégias de melhoria de ensino e a forte relação que o conhecimento tem com a sociedade Heloísa Lück diz que:


Essa mudança de paradigma é marcada por uma forte tendência à adoção de concepção e práticas interativas, participativas e democráticas, caracterizadas por movimentos dinâmicos e globais, com os quais, para determinar as características de produtos e serviços, interagem dirigentes, funcionários e “clientes” ou “usuários”, estabelecendo alianças, redes e parcerias, na busca de soluções de problemas e alargamento de horizontes. (2000, p.11)


Nessa assertiva podemos perceber que o ensino e a aprendizagem podem ser eficazes, quando há uma cooperação mútua entre escola e sociedade, desde que a escola priorize o ensino de conhecimento técnico-científico, a garantir o livre desempenho das faculdades mentais dos alunos de forma ética, cidadã e democrática. E que a sociedade seja mais ativa e participe das decisões sociais formando conselhos, ONGs, cooperativas etc., para discutir problemas sociais e educacionais firmando assim um pacto de corresponsabilidade sócio-educacional, a desenvolver uma criticidade e ser mais eficiente no processo técnico-científico, tanto na educação quanto social.


3 A gestão e a participação para proporcionar o ensino-aprendizagem nas práticas políticas e sociais.


O papel do gestor é garantir meios que possibilite a superação entre a teoria e prática e que aproxime a realidade às atividades teóricas e práticas para asseverar o ensino-aprendizagem como atividade de transformação da realidade para isso a gestão deve primar pela participação e proporcionar o conhecimento perante as práticas políticas e sociais. O maior problema que a educação enfrenta é o fato de que os políticos não abrem a mão do poder, nem da autoridade e o que é pior ainda mantêm a política do coronelismo mandando e desmandando como bem entendem.

Se, por outro lado, pode-se pensar que o gestor é, acima de tudo, o elo que faz a engrenagem da máquina funcionar, por isso é que tem a obrigação de asseverar ao aluno uma autonomia tanto na vida escolar, quanto na política sócio-profissional.

Para esse intento a gestão e a participação devem proporcionar e desenvolver a autonomia intelectual a possibilitar as práticas de cooperação socioeducacional, de promover as discussões e análise da realidade em que se insere e de intermediar instrumentos de leitura e desenvolvê-las com as chamadas novas tecnologias permeando as atividades sociais, pessoais e políticas para expandir plenamente o processo de ensino-aprendizagem.

A dimensão de uma prática metodológica volvida a uma prática social afirmará a construção do conhecimento pelo processo de articulação cooperativista a vincular assim o conhecimento de sala de aula à práxis e as formas de trabalho, em que permeia a organização do ensino-aprendizagem e da relação pedagógica que se quer efetivar no aluno.

Por essa razão, quem constrói o sujeito? Quais são as suas relações entre ensino e conhecimento? São estas questões que nos alerta para uma relação direta na construção psicossocial do aluno e a sua relação com o meio.

Para asseverar o raciocínio e as novas tecnologias à didática deve-se compreender que a aprendizagem tem que utilizar o processo de provocação, isto é, proporcionar ao aluno situações que faça refletir sobre a questão indagadora. Outro ponto fundamental é colocá-lo frente ao objeto de estudo, ou elemento, ou a situação que o permita elaborar respostas a estas situações é consequentemente a interação que o aluno tem que compreender para saber refletir e produzir suas hipóteses para gerar possíveis soluções. Esse é o ponto chave que a gestão escolar tem que assegurar ao aluno mantendo uma dinâmica da união com o conteúdo X análise da realidade e as novas tecnologias X a solução dos problemas.

Daí a capacidade analítica de avaliar o cidadão como um ser autônomo e consciente dos seus atos e das decisões que devem ser tomadas. Para a efetivação da metodologia de uma gestão cooparticipativa devem perceber-se as relações que a problematização traz e este é o fator preponderante para que o aluno possa estabelecer a contradição entre o problema e a hipótese. A interação com o objeto-problema faz com que o discente elabore, planeje e esquematize soluções para tal situação proposta contrapondo o teórico à prática a dialogar com o tirocínio de cooperação a propiciar a reflexão pelo processo das novas tecnologias do conhecimento.

A educação como objeto da produção do conhecimento deve abranger a autonomia e a livre consciência na participação não só político, mas também pedagógico e, por essa razão que a gestão segundo Heloísa Lück (2000) diz que o entendimento pode gerar considerações em relação ao todo e com as suas partes e transformá-las entre si, de modo que a maior transformação se é alcançado quando se trabalha em conjunto.

O instrumento que viabilize a prática da gestão é a forma como o gestor conduz a sua prática, segundo Freire (1999) o professor, o gestor, a escola e a sociedade estão lidando com o indivíduo concreto, e como tal ele é uma síntese de inúmeras relações sociais. Os problemas que o aflige não só os de casa, mas também o de qualquer setor social faz com que ele tenha uma postura e reflita sobre ela e produz assim novas tecnologias do conhecimento.


4 CONCLUSÃO


Quando se cria a consciência de si mesmo passa a manifestar e aceitar a convenção de que precisa do outro e essa forma garante, segundo Lück (2000), o surgimento da consciência que a realidade pode propiciar para a autonomia só por compreender que essa exigência é condição preponderante para a relação do trabalho pedagógico frente ao ensino e a aprendizagem em que se volta para a relevância da união com o conhecimento social, a construir assim um cidadão pleno.

Em si tratar das práticas políticas e sociais volta-se também a uma prática educativa eficiente e eficaz na produção do conhecimento, em que se pode perceber que é essencial para a construção do ser humano que tem experiência, responsabilidade e autonomia de pensar fazendo com que reflita e produza as suas próprias conclusões, a melhorar assim o conhecimento efetivado no ensino a na aprendizagem assegurando-o a consciência de uma gestão participativa e social como um ser autônomo.

O saber como prática educacional e social se constrói a partir da busca de reorganização do mundo, estritamente relacionado com os variados mecanismos de poder que perpassam as relações dos seres humanos entre si. Por isso, o saber gera poder e, por sua vez, cria mecanismos no interior do próprio conhecimento para não só constituir mais legitimá-lo.

Com isso, segundo Freire (1999) a prática educativa pode ser um testemunho da capacidade de comparar, valorizar, intervir, escolher, decidir e romper todos os preceitos de conhecimento concebendo o seu a partir do outro criando e recriando com todas as suas possibilidades de construção e criação do conhecimento real, social e político.

Ao pensar nesse pressuposto pode-se intuir que as relações de participação e a criação de novas tecnologias do conhecimento são múltiplas, no entanto, as particularidades da vida social interferem na construção do saber e vice-versa, pois o papel da gestão é primordialmente gerar cooperação e confrontar as ideias para gerar um ser autônomo e consciente, portanto, ela é preponderantemente o estimulo e a viabilidade de abrir as portas de novos conhecimentos e de novas diretrizes sociais para a construção de um novo ser social pleno.


REFERÊNCIA

BONETI, Lindomar Wessler. As políticas Educacionais, a gestão da escola e a exclusão social. In FERREIRA, Maria Syria Carapeto; AGUIAR, Maria Angela da S. (Orgs). Gestão da Educação: impasses, perspectivas e compromissos. 9 ed. São Paulo: Cortez, 2006.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 23. Ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1999.

LÜCK, Heloísa. Perspectivas da Gestão Escolar e Implicações quanto a Formação de seus Gestores. In: Enfoque. Qual é a questão? Em Aberto, Brasília, v. 17, n 72, p. 11-33 fevereiro-junho 2000.

SANTOS, Cristina Nunes dos. at all. Gestão Interna e externa: uma releitura das interações nas complexidades entre as partes. (Projeto). Paripiranga-BA, fevereiro-junho, 2011.

domingo, junho 26, 2011

Análise estilística da música Como Vovó Já Dizia de Raul Seixas.

Ronye Márcio Cruz de Santana
VI período do Curso de Letras

RESUMO:

O artigo pressupõe uma análise textual voltada para a Linguística e a Estilística e é nesse contexto que apresento uma relação contemporânea na interpretação textual relacionada a essas duas áreas. A finalidade é mostrar que a Língua Portuguesa como disciplina é tratada como uma mera reprodutora de normas gramaticais e que deve utilizar as múltiplas áreas para ampliar o conhecimento do aluno por meio da interpretação e do ethos e da performance textual.

PALAVRAS-CHAVE: Análise Textual; Linguística; Estilística; Interpretação Textual; Língua Portuguesa.

ABSTRACT:

The article assumes a textual analysis focused on Linguistics and Stylistics and in that context that I present a contemporary relationship in textual interpretation related to these two areas. The objective is to show that the Portuguese language as a subject is treated as a mere reproducer of grammatical rules and must use the multiple areas to expand the student's knowledge through the interpretation and textual ethos and performance.

KEYWORDS: Textual Analysis, Linguistics, Stylistics; Textual Interpretation; Portuguese Language.


1 INTRADUÇÃO


No contexto atual podemos perceber que a disciplina de Língua Portuguesa está ganhando espaço no processo de interpretação, no entanto, o ganho ainda é sutil, visto que a maioria dos profissionais ainda utiliza essa matéria com forma de passar normas gramaticais deixando a parte o universo que é a leitura e a interpretação com bases Linguísticas e Estilísticas. O avanço da ciência linguística no Brasil veio a nos possibilitar uma relação de criação e interpretação textual pela contribuição das áreas psicolinguística, bem como a sociolinguística.

O caminho recorrente para diminuir as falhas do contexto do ensino de Língua Portuguesa está voltado para a pragmática, bem como as gramáticas textuais com ênfase na teoria da comunicação e na análise do discurso, em que a semiótica é o eixo preponderante da compreensão e interpretação da palavra em seu diverso sentido.

Por essa razão farei uma análise da canção ‘Como vovó já dizia’ de Raul Seixas para demonstrar como todas essas áreas podem contribuir para uma real eficiência do ensino da Língua Portuguesa.


2 UMA ANÁLISE ESTILÍSTICA NO CONTEXTO TEXTUAL DA LÍNGUA PORTUGUESA


Como Vovó Já Dizia
Composição: Paulo Coelho / Raul Seixas


-Como vovó já dizia
Quem não tem colírio
Usa óculos escuro
(Mas não é bem verdade!)
Quem não tem colírio
Usa óculos escuro
Hum!...
Quem não tem colírio
Usa óculos escuro
Minha vó já me dizia 10
Prá eu sair sem me molhar
Quem não tem colírio
Usa óculos escuro
Mas a chuva é minha amiga
E eu não vou me resfriar
Quem não tem colírio
Usa óculos escuro
A serpente está na terra
O programa está no ar
Quem não tem colírio 20
Usa óculos escuro
A formiga só trabalha
Porque não sabe cantar...
Quem não tem colírio
Usa óculos escuro
Quem não tem filé
Come pão e osso duro
Quem não tem visão
Bate a cara contra o muro
Uuuuuuuh!... 30
Quem não tem colírio
Usa óculos escuro
É tanta coisa no menu
Que eu não sei o que comer
Quem não tem colírio
Usa óculos escuro
José Newton já dizia:
"Se subiu tem que descer"
Quem não tem colírio
Usa óculos escuro 40
Só com a praia bem deserta
É que o sol pode nascer
Quem não tem colírio
Usa óculos escuro
A banana é vitamina
Que engorda e faz crescer...
Quem não tem colírio
Usa óculos escuro
Quem não tem filé
Come pão e osso duro 50
Quem não tem visão
Bate a cara contra o muro...
Quem não tem colírio
Usa óculos escuro

Solta a serpente!
Hari Krishna!
Hari Krishna!...
Quem não tem colírio
Usa óculos escuro
Quem não tem filé
Come pão e osso duro
Quem não tem visão
Bate a cara contra o muro
Uhuuuu!...


Quem não tem colírio
Usa óculos escuro
É tanta coisa no menu
Que eu não sei o que comer
Quem não tem colírio
Usa óculos escuro
Só com a praia bem deserta
É que o sol pode nascer...
Quem não tem colírio
Usa óculos escuro
José Newton já dizia:
"Se subiu tem que descer"
Quem não tem colírio
Usa óculos escuro
A banana é vitamina
Que engorda e faz crescer...
Quem não tem colírio
Usa óculos escuro
Minha vó já me dizia
Prá eu sair sem me molhar
Quem não tem colírio
Usa óculos escuro
Mas a chuva é minha amiga
E eu não vou me resfriar...
Quem não tem colírio
Usa óculos escuro
A serpente tá na terra
E o programa está no ar
Quem não tem colírio
Usa óculos escuro
A formiga só trabalha
Porque não sabe cantar
Quem não tem colírio
Usa óculos escuro...


A música Como Vovó Já Dizia é composta por Paulo Coelho e pelo próprio cantor Raul Seixas que faz uma relação do seu mundo particular quando ele cita a avó, pois é uma realidade que surgiu do seu convívio familiar para o mundo globalizado e virtual.

Justamente quando faz referência ao ditado de sua avó que é: “Quem não tem colírio usa óculos escuro”. Deixa bem claro o confronto de fatos ideológicos que ficam implícitos na mensagem. Esse dialogismo que reflete àquilo que digo, a àquilo de quem a interpreta, que perpassa do eu para o outro, demonstra uma heterogeneidade de interpretação textual.

Nessa perspectiva o autor faz referência a uma sociedade que não se permite enxergar os erros e as mazelas sociais, enquanto que pelo refrão quem não tem uma visão heterogênea que passa pelo campo da virtualidade do sentido interpretará ao pé-da-letra o sentido dessa mensagem que é uma pessoa que tem problema de visão e para não mostrar o problema usa os óculos escuros.

Porém a heterogeneidade desse refrão deixa bem claro a relação de sentido entre o conteúdo e a forma de expressão. Que no conteúdo a referência é uma limitação corpórea, porém na expressão a limitação é na criticidade, na total falta de se indignar com os fatos do cotidiano social e suas mazelas.

Já a relação entre o semio-narrativo e o discursivo ultrapassa os limites da compreensão vocabular à imaginação religiosa ou popular de um povo, que é a sua cultura. A estrutura semântica da frase há uma quebra de sentido coeso, que é a concordância do substantivo ‘óculos’ em relação ao adjetivo ‘escuro’ que devia está no plural.

No entanto o autor procurou um efeito de sentido, que nesse caso, prioriza o falar da sua avó que um fato correlacional à cultura popular, por essa razão é que a análise do discurso deixa evidentes as intenções da cegueira de quem não quer ver o que se está amostra e mesmo assim se esconde por traz de algo e fica espreitando, fingindo não saber do que está acontecendo.

A relação da enunciação com o enunciado é muito pertinente para a totalidade de estilo, pois permeia a fato homogêneo ao fato heterogêneo que é aquilo que parte de mim para o outro o chamado (eu/tu) essa relação dialógica provoca os diversos sentidos polifônicos textuais, já que o que eu penso não é a mesma forma que o outro pensa, por essa razão a interpretação de um mesmo fato pode ser interpretado de diversas formas e contextos.

Na relação discursiva o autor discorda do próprio ditado ao dizer: (Mas não é bem verdade!) Essa expressão permeia um sentido de dúvida e de explicações que ele fará em uma relação lógica e coerente.


Minha vó já me dizia
Prá eu sair sem me molhar
Mas a chuva é minha amiga
E eu não vou me resfriar


O autor usa uma máxima de relação que é sair sem molhar / chova / não resfriar, na construção da virtualidade do sentido ele quis demonstrar que: se sair vai se molhar sim e a consequência é se resfriar, pois ficará molhado. O sentido reverso dá um teor irônico e sarcástico do autor para aqueles que são ingênuos e omissos.


A serpente está na terra
O programa está no ar


A relação serpente / programa é uma correlação do ethos com a performance, pois o primeiro denota a compreensão dos dogmas e a moralidade em virtude da devoção que é o caso de serpente. Já no segundo traz à tona as impressões cognitivas do autor referente à posição do programa, no qual faz alusão ao poder mercantilista e a influência da mídia em virtude do capitalismo.

Uma análise psicológica da serpente pode ser vista do ponto de vista que ela representa a relação sexual de jovem e a forma sedutora que ela causa e tal poder influencia o jovem a ser seduzido para os prazeres carnais ou prazeres compulsórios individuais. E o programa é a amante que seduz e manipula para que ele satisfaça esses prazeres.

A existência dos elementos terra / ar faz alusão aos seres divinos e aos seres humanos, no princípio cultural e histórico torna esses elementos como algo sagrado e real a todo ser vivo, por isso é que o fator ideológico da poética lava o autor a construir o texto com indicações de micronarrativas por meio de palavras alusórias ou até mesmo nomes próprios e expressões que remontam núcleos temáticos ou núcleos figurativos.

A micronarrativa é a inclusão de um núcleo temático no poema do autor a qual ele faz alusão que é o caso dos seguintes versos:


A formiga só trabalha
Porque não sabe cantar...


Os seguintes versos fazem uma reconstrução da ideologia da fábula A formiga e a cigarra que faz uma relação com o tema social em que as pessoas têm um trabalho ou uma profissão a exercer e, àquelas pessoas que não têm um trabalho e cai no estereótipo do boêmio que leva a vida a cantar e a se divertir.

Numa relação dialógica entre formiga e o trabalhador que pega no pesado e se embrutece no espírito, pois perde a alegria de viver como um ser múltiplo e culto, passando a representar a obrigação e a insatisfação de viver o que não se pode conseguir no processo de alienação e escravidão no trabalho.

Porém a mesma relação entre a cigarra e o lazer nos intui a boemia e a pobreza. Essa relação denota a fragilidade da cigarra de não ter qualificação e habilidade para o trabalho e que se recusa a exercer uma função no campo social, passando a depender dos outros para sobreviver, com ele se reporta as artes para tentar ganhar o pão de cada dia.

Essa relação que Raul faz em sua composição Greimas e Fantanelle denomina de Intertextualidade estilística, essa análise também é refletida como recurso interpretativo textual quando Discini diz: A Intertextualidade estilística “será observada em homologação à intertextualidade entre textos, esta considerada como a retomada consciente, intencional, da palavra do outro, mostrada, mas não demarcada no discurso da variante”. (p. 225)

Outro ponto da performance que denota a totalidade de estilo que reflete a consciência individual é o seguinte trecho:


Quem não tem filé
Come pão e osso duro


A heterogeneidade da relação consiste no foco morfológico, semântico, sintático, analítico e acima de todo ideológico, cultural, religioso e político. Por isso a palavra filé correlaciona a ideologia de uma classe dominante que possui riqueza e fartura, por outro lado pão e osso duro demonstra a ganância de uns e a pobreza de outros que tem como base alimentar o pão, que é um alimento pobre de nutrientes de e fácil aquisição, no entanto o osso duro reflete o estado de penúria desse povo esfomeado e ávido por solução, porém sego pela ideologia e pelo capitalismo.


Quem não tem visão
Bate a cara contra o muro


A (re)construção de termos faz valorizar a falta de rima, mas enriquece em sentido polissêmico. As palavras visão/bate/muro nos faz entender que mesmo aquele que enxerga não consegue ir longe, pois tem obstáculos que o impede de ter uma visão mais minuciosa e crítica.

O verbo bater foi empregado de forma pejorativa e crítica que nos faz intuir que quem não for inteligente, estudioso, astuto e crítico nunca vai conseguir o que deseja na vida, pois é comandado e influenciado pelo mundo, pela política, pela mídia e pelos interesses dos capitalistas.

Até a expressão fônica do verso Uuuuuuuh!... tem um sentido polifônico e polissêmico, pois pode se referir a fome que o povo sente e se satisfaz no cheiro do filé, mesmo que coma pão e osso. E representa a dor que sentiu ao bater a cara no muro ou então o peso na consciência sendo refletido num gemido de desespero por uma solução desses problemas que estão à vista e se omite para não resolvê-lo por medo do sistema capitalista.

O mesmo som Uuuuuuuh!... introduz o mesmo fato social que o autor deixa bem claro a sua indignação que é a fome.


É tanta coisa no menu
Que eu não sei o que comer


Os termos menu/comer denota mais uma vez a fartura da elite e a fome do pobre, ponto no qual ele se inclui como pobre que está tendo a chance de chegar a uma mesa farta, na qual reflete uma abundância de iguarias que ele não sabe como se portar à mesa.

A relação de convocação enunciativa permite que o autor faça uma relação de heterônimos textuais é o fato de que o seu eu se transforme em outro no seu texto, nesse contexto Raul Seixas transforma Isaac Newton em José Newton, como se estivesse dizendo que o José que representa o ‘qualquer um’ desse notoriedade àquele que vive no meio do povo e que possui a mesma sagacidade e inteligência. Percebe-se isso nos versos seguintes:


José Newton já dizia:
“Se subiu tem que descer"


Essa relação de povo representado pelo José e Newton que representa a massa intelectualizada e científica possa produzir uma prática cultural e histórica pela façanha de mudar toda uma estrutura social pelo seu conhecimento e prática científica, frente a um José que tem uma prática cultural e folclórica que possui uma vivência popular e religiosa.

As palavras subir/descer que está explicitamente claro na Lei da Física que diz que tudo que sobe tem que descer, porém no contexto das intenções intui de forma implícita que pode haver uma queda no poder ou a mudança de status, essa variação permeia a falta de capacidade intelectual para gerenciar o capital e manter o padrão social que possui.


Só com a praia bem deserta
É que o sol pode nascer


Nesses versos a relação com e religiosidade é dificilmente encontrada, porém o sentido heterogêneo de um termo nos faz esclarecer essa analogia com as seguintes palavras ‘praia deserta’ refere-se ao paraíso em que se encontrava Adão e Eva e o ‘sol’ faz uma analogia ao Deus que tudo criou e fez nascer fortalecendo assim o poder que Deus possui sobre todas as coisas. Como Deus criou tudo, todos os seres exercem um controle sobre os outros, seja pelo meio físico, como biológico, ou ideológico. É o que podemos observar nesses versos:


A banana é vitamina
Que engorda e faz crescer...


A relação conteúdo, expressão e discurso é bem evidente com essa analogia de controle e de poder, pois a semelhança entre a banana e o povo é simbólico. Quando o povo é vitaminado ele cresce, por essa razão é que a população é manipulada e dependente daqueles que o alimenta com pão e osso. A banana é uma metáfora para a população que vive na América, na qual se alimente de frutas e perpetua de forma livre. Porém quem tem uma visão limitada consegue ver o óbvio que é que toda banana tem potássio e como vitamina pode engordar e desenvolver o corpo dos seres vivos, que é a relação de controle e dependência.

Na parte final do texto a convocação enunciativa chama a atenção para o processo de dominação pelo capitalismo quando o autor diz:


Solta a serpente!


Esse trecho denota uma virtualidade de sentido como fato ideológico de uma relação para a produção de uma performance. Nesse contexto analítico podemos observar que soltar a serpente é botar para fora tudo que você tem de ruim, é lutar contra todas as diversidades que o aflige, é dominar o seu medo contra o capitalismo, é entregar-se aos amores, é libertar-se das prisões ideológicas. Por essa razão é que liberar a serpente significa lutar pelos seus ideais e correr atrás dos seus desejos.

E quando a serpente é dominada ele reflete o processo da criação por um olhar religioso indianista citando Hari Krishna! Deus Indiano que domina as serpentes pelo som da flauta e as fazem submissa aos seus desejos. Hari Krishna possui o olho que tudo vê, que tudo sabe, que tudo faz, como isso quando Raul cita Krishna ele se abstém de suas crenças e valores e com um olhar de alteridade faz uma análise consciente e crítica da realidade social que fica fora do seu campo de visão limitada a um único dogma.


CONCLUSÃO


De acordo do que aqui foi exposto pode-se perceber que a Língua Portuguesa ainda está muito longe de atingir esse processo nas escolas de Ensino Fundamental, porém já é um número crescente de professores que estão se qualificando para que possa melhoras as aulas dessa disciplina. O que se pode pensar, em curto prazo, é o que ensinar e como ensinar. Com todo não se pode responsabilizar o professor por todas as falhas, ele faz aquilo que lhe é oferecido e a postura de criação e elaboração de uma proposta de ensino curricular inovando deve vir em conjunto e não de ímpeto.

Quando começar a evidenciar a leitura, a interação e a interpretação o aluno saberá refletir e a interpretar as ideologias que o texto apresenta, já é um princípio para que o aluno comece a perceber a relação de sentido que o texto nos intui e que analogia essa ou aquela palavra está se referindo.

No contexto sociolinguístico o aluno tem que está preparado para saber buscar a princípio a relação real que a palavra está sendo empregada para a partir daí fruí as várias relação de contexto que nos dá em diversos ambientes e culturas. Não se esquecendo da análise psicolinguística de que a Língua é carregada de ideias, de ideologia e de intenções que é proferida, e essa forma de compreensão tem que ser entendida e interpretada pelos alunos, por essa razão é que temos uma variedade linguística riquíssima e que podemos utilizar esse material como feramente de trabalho para construir um trabalho riquíssimo em sala de aula. E todo isso está presente na música, na poesia, nos contos e/ou nos textos em geral.


REFERÊNCIA


BOAVENTURA. Edivaldo. Como ordenar as idéias. São Paulo: Ática, 2003. (Série Princípios)

COELHO, Paulo. SEIXAS, Raul Como Vovó Já Dizia. Disponível em http://letras.terra.com.br/raul-seixas/48305/. Acesso em 16 de Abril de 2011.

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FAULSTICH, Enilde L. de J. Como ler, entender e redigir um texto. 19° ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1987.

BLIKSTEIN, Izidoro. Técnicas de comunicação escrita. 22 ed. São Paulo: Ática, 2006. (Série Princípios)

NEVES, Maria Helena de Moura. Ensino de Língua e vivencia de linguagem. São Paulo: Contexto, 2010.

SHIMOTE, Carlos Alberto. A retórica de Aristóteles. In: CORRÊA, Leda (Org.). Direito e Argumentação. Tamboré Barueri / SP: Manolo, 2008.