Em si mesmo

Em si mesmo, viver é uma arte
E na arte de viver
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O artista e o objeto de sua arte
Assim como: o escritor e a palavra.
Ronye Márcio

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domingo, junho 03, 2012

A semântica no contexto dos cenários poéticos e musicais a partir da música A ilhas da fantasia.

Ronye Márcio Cruz de Santana
Acadêmico do curso de Letras


RESUMO:


O presente trabalho tem como finalidade despertar a percepção do leitor em relação aos cenários existentes no mundo da poesia e da música. O objetivo principal para a relação do cenário com a poética é feito a partir do conceito de sociologia e da condição cultural do poeta. O cenário é essencial para a construção semântica das relações inter e intratextuais, a garantir ao leitor um panorama real e alternativo no contexto social e no poético. Entende-se que o leitor tem uma fragilidade para compreender os princípios da relação e do contexto, bem como e relação do particular para o global.


PALAVRAS-CHAVE: Percepção do leitor; cenário poético; poesia e música; semântica.


ABSTRACT:


The present study aims to arouse the reader's perception in relation to the scenarios in the world of poetry and music. The primary goal for the relation with the poetry of the scene is done from the concept of sociology and cultural condition of the poet. The scenery is essential for building semantic inter and intratextual relations, to ensure the reader a realistic perspective and alternative social context and poetic. It is understood that the reader has a weakness to understand the principles of interface and the context and the individual and relationship to the global.


KEY WORDS: Perception of the reader; poetry scene, poetry and music; semantics.


A princípio a frase nominal que dá nome ao título da canção é feita a partir de um seriado da TV americana que os passageiros chegam à ilha com problemas a que sempre ao final todo se resolve da melhor maneira possível intuindo que na vida sempre há uma saída mesmo que você não esteja enxergando a solução para o problema, mas que tudo tem sempre uma solução. E essa ideia de conformidade, de impotência, de vulnerabilidade desaparece ao perceber que há algo que pode acontecer solucionar todos os problemas existentes na vida de cada um.


A ilha da fantasia
Raul Seixas


Vamos logo que já tá na hora de zarpar
Vem sem medo que não vamos naufragar
Navegador!
Não se esqueça, meu amigo, de chamar o seu vizinho
Navegador!
Vê se na praça tem alguém para vir
A barca de Noé já vai partir, navegador
A barca de Noé já vai partir

Navegador!
Não se esqueça, meu amigo, de chamar o seu vizinho
Navegador!
Vê se na praça tem alguém pra vir
A barca de Noé tá pra sair, navegador
A barca de Noé já vai partir

Vamos escolher bem melhores condições
Longe desse triste carnaval de ilusões
Navegador!
Deixa os que sonham em ser felizes
Habitando o paraíso
Navegador!
Já faz tempo que esperou
Vivendo sob leis que não criou
Navegador
Vivendo sob as leis que não criou


Quando se pensa em contexto poético pensa-se também na criação dos cenários poéticos, pois estes fazem com que o leitor ou o ouvinte da música crie mentalmente essas paisagens. É o que podemos perceber claramente nessa situação, observe os seguintes versos da música A ilha da fantasia de Raul.


Vamos logo que já tá na hora de zarpar
Vem sem medo que não vamos naufragar
Navegador!


A primeira palavra que faz criar a imagem do ambiente é ‘zarpar’ que é um verbo que intui a ação de navegar no mar. E esse contexto semântico de cenário é reforçado no segundo verso da música com o verbo ‘naufragar’ que além de demonstrar uma cena forte, também nos deixa a par dos sentimentos de quem está vivenciando este momento e que esse contexto ideológico de imagem é feito a partir das relações que o autor pretende fazer.

No terceiro verso o poeta se utiliza do vocativo para chamar a atenção não só de quem está no comando da embarcação, mas nas entrelinhas ela está chamando a atenção do ouvinte para a situação que está para acontecer. A expressão ‘Navegador!’ também intui a posição de todos que estão presente na embarcação e que poderá sofrer, caso não tome as devidas precauções para solucionar o problema.


Não se esqueça, meu amigo, de chamar o seu vizinho
Navegador!


Nestes versos o compositor deixa claro do papel social que cada um de tem para com o seu semelhante, mas também deixa claro que você é responsável por você mesmo. Mais uma vez ele se utiliza do vocativo ‘meu amigo’ para dar um ar de intimidade e solidariedade com os ouvintes e com todos que estão presente na embarcação. E por fim ele chama mais uma vez a atenção do Navegador para o fato que está acontecendo.


Vê se na praça tem alguém para vir


No contexto social pode-se perceber que o autor já nos trouxe outros cenários que foram um cais onde ficam as embarcações e uma cidade litorânea onde fica esse cais e mais uma vez ele retorna ao contexto social quando diz ‘Vê se na praça tem alguém para vir’, perceber-se bem que ele chama a atenção da personagem quando ela utiliza o verbo ver no imperativo indicando uma ordem e um dever de cidadão para com o próximo, para que não possa sair e deixar ninguém para trás. Essa postura de mandar deixa claro a posição de comandante ou de líder que se forma quando não se acham alguém competente para resolver o fato crítico que estar por acontecer.


A barca de Noé já vai partir, navegador
A barca de Noé já vai partir


Somente nesses versos é que o autor deixa claro a real intenção da sua crítica que é uma passagem da bíblia que é a história de Noé. Essa duplicidade de ideia e de relação acontece, quando há uma semelhança de cenário, pois o poeta pode brincar com esse jogo de palavras, em que um determinado momento ele fala de uma cena e no outro ele fala do outro.

Só agora é que se pode utilizar a análise correlacional dos cenários, pois se tem os dois cenários que o autor quer abordar e o cenário que ele que criticar, não dizendo que ele só vai criticar uma parte, mas ambas. A crítica que se percebe é que Noé construiu uma arca e deixou milhares de pessoas morrem. Essa é primeira análise que ele faz e a segunda é que ele não foi humano suficiente para impedir a morte dessas pessoas isso é a concepção do autor.

Um fato importante é a relação que ele faz com a palavra ‘navegador’ que no terceiro e quinto versos essa mesma palavra vem acompanhada de letra maiúscula, esse recurso gramatical também é intencional, pois qualquer palavra que se refere a Deus deve ser em maiúscula, por essa razão é que Navegador se refere a Deus e a mesma palavra em letra minúscula está se referindo ao comandante da embarcação, determinando a responsabilidade de cada uma das personagens da música.

Nesse verso deixa claro o temor dele em ver que a embarcação está para partir e possa ter a possibilidade de alguém ficar para trás.


Navegador!
Não se esqueça, meu amigo, de chamar o seu vizinho


De acordo com o ambiente o poeta deixa evidente a posição de cada personagem e a crítica que cada um leva, pois mais uma vez ele se utiliza da palavra em maiúscula para se referir a Deus e criticando-O que ele abandonou aquelas pessoas para morrerem afogadas e ao mesmo tempo manda e critica a postura das pessoas por serem omissas e covardes e, mais uma vez ele se utiliza do imperativo para tomar uma posição de líder naquele momento quando diz: ‘Não se esqueça,’ e para denotar companheirismo a amizade ele usa o vocativo ‘meu amigo’ para indicar proximidade e respeito.

Observe os seguintes versos:


Vamos escolher bem melhores condições
Longe desse triste carnaval de ilusões


Nesses dois versos o autor já passa para a crítica social quando diz que ‘Vamos escolher bem melhores condições’ a crítica aqui é que as pessoas tenham consciência para exigir dos governantes uma postura séria e ética para com todos que fazem parte dessa sociedade e pagam seus impostos.

A relação que fala ‘desse triste carnaval de ilusões’ é quando a população não toma para si a responsabilidade de exigir melhores condições para todos e que a ideologia do pão e circo está falida e que queremos mais do isto, pois carnaval é uma máscara para os problemas sociais que não estão sendo resolvidos.


Navegador!
Deixa os que sonham em ser felizes
Habitando o paraíso


Mais uma vez ele chama a atenção para Deus fazendo uma solicitação e ao mesmo tempo uma ordem, pois o verbo se encontra no imperativo, quando diz ‘Deixa os que sonham em ser felizes’, pois em sua concepção toda pessoa merece um paraíso, pois todos são Seus filhos, e como tal merece o bom e o bem.


Navegador!
Já faz tempo que esperou
Vivendo sob leis que não criou


Aqui a crítica é para a igreja que criou leis para dominar e manipular a população e usando o nome de Deus para justificar a vontades deles. Pode-se perceber quando diz ‘Vivendo sob leis que não criou’, pois ele deixa claro que estas leis foram o homem que fez e não Deus, por essa razão é que é um absurdo para ele compreender determinados fatos que a igreja comete em nome de Deus se ele é amor.


CONCLUSÃO

 
Como podemos perceber o contexto do cenário é fundamenta para a criação do poema e da música e esse contexto social é importante para dar aos leitores uma dimensão do entendimento da poética, da semântica e das relações que a sociedade está passando e que todo isto contribui para o desenvolvimento para personalidade dos cidadãos.