Em si mesmo

Em si mesmo, viver é uma arte
E na arte de viver
É, simultaneamente, o homem:
O artista e o objeto de sua arte
Assim como: o escritor e a palavra.
Ronye Márcio

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terça-feira, fevereiro 03, 2015

A didática em questão



CANDAU, Vera Maria, (org.). A didática em questão. 30 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.



Ronye Márcio Cruz de Santana[1]

CAPÍTULO I - Papel da didática na formação de professores.

CANDAU, Vera Maria. A didática e a formação de educadores – Da exaltação à negação: a busca da relevância. In: __________. A didática em questão. 30 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.


OBJETIVOS DA OBRA:

1] Promover uma revisão crítica do ensino e da pesquisa em didática;
2] Responder a uma necessidade vivida pelos profissionais da área no momento atual;
3] Oferecer aos profissionais da educação um debate sobre a prática educativa em várias perspectivas didáticas;
4] Estimular a busca de propostas alternativas que visem a ampliação quantitativa e a melhoria qualitativa das oportunidades para a população brasileira.


CITAÇÕES:

“Todo processo de formação de educadores (...) inclui necessariamente componentes curriculares orientados para o tratamento sistemático do “que fazer” educativo, da prática pedagógica. Entre estes, a didática ocupa um lugar de destaque.” (p. 13)

“(...) As principais acusações são de que seu conhecimento, quando não é inócuo, é prejudicial.” (p. 13)

         01] inocuidade – [parte dos professores] (...) vingou a suposição de que o domínio do conteúdo seria o bastante para fazer um bom professor;
         02] prejudicial - (...) análise mais crítica das funções da educação, em que se responsabiliza a Didática pela alienação dos professores em relação ao significado de seu trabalho. (CANDAU apud SALGADO, p. 14)

“(...) o ensino de Didática se foi configurando segundo umas características específicas que têm de ser analisadas em função do contexto educacional e político-social em que se situam.” (p. 14)

1. Um ponto de partida: a multidimensionalidade do processo de ensino-aprendizagem


O objeto de estudo da didática é o processo de ensino-aprendizagem. Toda proposta didática está impregnada, implícita ou explicitamente, de uma concepção do processo de ensino-aprendizagem.
(...) Que o processo de ensino-aprendizagem, para ser adequadamente compreendido, precisa ser analisado de tal modo que articule consistentemente as dimensões humana, técnica e político-social. (p. 14)


Para a abordagem humanista é a relação interpessoal o centro do processo. Esta abordagem leva a uma perspectiva eminentemente subjetiva, individualista e efetiva do processo de ensino-aprendizagem. Para esta perspectiva, mais do que um problema de técnica, a didática deve se centrar no processo de aquisição de atitudes tais como: calor, empatia, consideração positiva incondicional. A didática é então “privatizada”. O crescimento pessoal, interpessoal e intragrupal é desvinculado das condições socioeconômicas e políticas em que se dá; sua dimensão estrutural é, pelo menos, colocada entre parênteses. (p. 14, [grifo meu])


Quanto à dimensão técnica, ela se refere ao processo de ensino-aprendizagem como ações intencional, sistemática, que procura organizar as condições que melhor propiciem a aprendizagem. Aspectos como objetivos instrucionais, seleção de conteúdo, estratégias de ensino, avaliação etc., constituem o seu núcleo de preocupações. Trata-se do aspecto considerado objetivo e racional do processo de ensino-aprendizagem. (p. 15, [grifo meu])


A dimensão técnica é privilegiada, analisada de forma dissociada de suas raízes político-sociais e ideológicas, e vista como algo “neutro” e meramente instrucional. A questão do “fazer” da prática pedagógica é dissociada das perguntas sobre o “por que fazer” e o “para que fazer” e analisada de forma, muitas vezes, abstrata e não contextualizada. (p. 15, [grifo meu])


(...) o tecnicismo parte de uma visão unilateral do processo ensino-aprendizagem, que é configurado a partir exclusivamente da dimensão técnica, no entanto esta é sem dúvida um aspecto que não pode ser ignorado ou negado para uma adequada compreensão e mobilização do processo de ensino-aprendizagem. O domínio do conteúdo e a aquisição de habilidades básicas, assim como a busca de estratégias que viabilizem esta aprendizagem em cada situação concreta de ensino, constituem problemas fundamentais para toda proposta pedagógica. No entanto, a análise desta problemática somente adquire significado pleno quando é contextualizada e as variáveis processuais tratadas em íntima interação com as variáveis contextuais. (p. 15, [grifo meu])


(...) a dimensão político-social lhe é inerente. Ele acontece sempre numa cultura específica, (...). A dimensão político-social não é um aspecto do processo de ensino-aprendizagem. Ela impregna toda a prática pedagógica que, querendo ou não (...), possui em si uma dimensão político-social. (p. 15-16, [grifo meu])


2. Ensinando didática

FINALIDADES DE CANDAU:

1] Partir uma experiência pessoal;
2] Situar a experiência na evolução político-social e educacional do país;
3] Fazer uma análise crítica da evolução do ensino da Didática da década de 60 até hoje.


CITAÇÕES:


2.1. 1º Momento: A afirmação do técnico e o silenciar do político: o pressuposto da neutralidade.


“Nos últimos anos da década de 50 e nos primeiros da de 60, o país passa por um período de grande efervescência político-social e educacional. O debate em torno da Lei de Diretrizes e Bases mobiliza a área educacional.” (p. 17)

(...) a didática faz o discurso escolanovista. O problema está em superar a escola tradicional, em que reformar internamente a escola. Afirma-se a necessidade de partir dos interesses espontâneos e naturais da criança; os princípios de atividade, de individualização, de liberdade, estão na base de toda proposta didática; parte-se da importância da psicologia evolutiva e da aprendizagem como fundamento da didática: trata-se de uma didática de base psicológica; afirma-se a necessidade de “aprender fazendo” e de “aprender a aprender”; enfatiza-se a atenção às diferenças individuais; estudam-se métodos e técnicas como: “centros de interesse”, estudo dirigido, unidades didáticas, método de projetos, a técnica de fichas didáticas, o contrato de ensino etc.; promovem-se visitas às “escolas experimentais”, seja no âmbito do ensino estatal ou privado. (p. 18)


(...) a educação brasileira de 1945 a 1960 e o período de 1960 a 1968 se caracteriza pela crise (...) e pela articulação da tendência tecnicista.
Nesta etapa, o ensino da didática assume certamente uma perspectiva idealista e centrada na dimensão técnica do processo de ensino-aprendizagem. É idealista porque a análise da prática pedagógica concreta da maioria das escolas não é o objeto de reflexão. (...) Os condicionamentos socioeconômicos e estruturais da educação não são levadas em consideração. (p. 18)


Desde o início dos anos 60 o desenvolvimento da Tecnologia Educacional e, concretamente, do Ensino Programado, vinha exercendo forte impacto na área da Didática. De uma concepção da tecnologia educacional que enfatiza os meios, conceito centrado no meio e, consequentemente, os recursos tecnológicos, se passava a uma visão da tecnologia educacional como processo. De fato esta concepção partia da conjugação da psicologia behaviorista, da teoria da comunicação e do enfoque sistêmico e se propunha desenvolver uma forma sistemática de planejar o processo de ensino-aprendizagem, baseando-se em conhecimentos científicos e visando a sua produtividade, isto é, o alcance dos objetivos propostos de forma eficiente e eficaz. (p. 19)

A educação é vinculada à Segurança Nacional.
(...) Assim (...), agora se enfatiza a produtividade, eficiência, racionalização, operacionalização e controle. A visão “industrial” penetra o campo educacional, e a didática é concebida como estratégia para o alcance dos “produtos” previstos para o processo de ensino-aprendizagem. (p. 19)


“A desvinculação entre a teoria e a prática pedagógica reforça o formalismo didático: os planos são elaborados segundo as normas previstas pelos cânones didáticos; quando muito, o discurso dos professores é afetado, mas a prática pedagógica permanece intocada.” (p. 21)


2.2. 2° Momento: A afirmação do político e a negação do técnico: a contestação da didática


(...) a partir da metade da década de 70, a crítica às perspectivas anteriormente assinaladas se acentuou. Esta crítica teve um aspecto fortemente positivo: a denúncia da falsa neutralidade do técnico e o desvelamento dos reais compromissos político-sociais das firmações aparentemente “neutras”, a afirmação da impossibilidade de uma prática pedagógica que não seja social e politicamente orientada, de uma forma implícita ou explícita. (p. 21)


3. De uma didática instrumental a uma didática fundamental


“Certamente, na maior parte das vezes, o ensino de Didática está informado por uma perspectiva meramente instrucional.” (p. 23)

Mas a crítica à visão exclusivamente instrucional da didática não pode se reduzir à sua negação. Competência técnica e competência política não são aspectos contrapostos. A prática pedagógica, exatamente por ser política, exige a competência técnica. As dimensões política, técnica e humana da pedagogia se exigem reciprocamente. Mas esta mútua implicação não se dá automaticamente e espontaneamente. É necessário que seja conscientemente trabalhada. Daí a necessidade de uma didática fundamental. (p. 23)


“A perspectiva fundamental da Didática assume a multidimensionalidade do processo de ensino-aprendizagem e coloca a articulação das três dimensões, técnica, humana e política, no centro configurador de sua temática.” (p. 23)


[1] Acadêmico do Curso de Letras, trabalho de Fichamento do Artigo de Candau para discursão na sala de aula na disciplina de Didática orientado pelo professor Tárcio.

TEXTO: Declaração de Salamanca.




LIBRAS E EDUCAÇÃO INCLUSIVA


Ronye Márcio Cruz de Santana[1]


De acordo com a Declaração de Salamanca o seu documento introdutório define e objetiva os princípios dos Direitos Universais do Homem referente ao processo de igualdade a todos sem distinção de nada, a reforçar o princípio de inclusão para que a sociedade adapte-se às necessidades especiais que cada indivíduo possui, a garantir seus direitos como cidadão e tornando-o apto e competente ao meio social e profissional.
Para que haja um enquadramento de ações é necessário que as minorias tenham conhecimento dos seus direitos fundamentais e essenciais garantidos perante a lei e para isso a participação de todos é fundamental para que todos tenham acessibilidade aos direitos é de fundamental importância que haja apoio suplementar das instituições públicas, privadas e do terceiro setor, bem como toda a sociedade, em geral, tem que ficar atenta as iniciativas de cada seguimento para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Quando se pensa em instituição pública, referente à inclusão, intui-se de imediato na escola que é o ambiente, onde acontece o processo de educação formal, e é nesse local que se aplica o currículo, no entanto esse tem que ser adaptado às pessoas com necessidades para que aconteça o princípio de ensino e aprendizagem, entretanto o governo tem que investir em programas de formação para professores para que possam trabalhar seguramente e desenvolver propostas de trabalho que garantam o acesso à educação gratuito e igualitário a todos.
Para reforçar o trabalho educativo os planos de ação são de suma importância para os professores, já que eles permitem que os educadores projetem passos a partir do planejamento educativo a permitir que eles tenham uma visão ampla do currículo que está sendo empregado e quais metas estão sendo atingidas a fortalecer o processo de igualdade e de acesso à educação e a convivência social.
Com isso, a inclusão perpassa por duas barreiras – a primeira que é a integração da pessoa com necessidades especiais que tem que se enquadrar à realidade que o cerca e, ao mesmo tempo, às demandas do mercado de trabalho. Já a segunda é a questão da linguagem no processo de comunicação, pois todas as pessoas têm como foco principal da linguagem a fala e em segundo lugar a imagem, no entanto, para o mercado de trabalho o argumento é essencial para a garantia de sucesso nesse ambiente colocando as pessoas com necessidades especiais em atividades mais braçal e com pouca exigência mental dependendo da necessidade que tenha, para isso é fundamental que os professores desenvolvam as potencialidade de cada um para que haja uma integração à realidade mais digna e coesa a quem realmente precisa.
De acordo com a legislação todos têm direitos e com isso possam se desenvolver e tornar-se um cidadão crítico e autônomo. É pensando nessa vertente que o governo promove programas de financiamento para que todos tenham conhecimento da área e acessibilidade aos meios sociais e profissionais do país.   
Para isso, o governo desenvolve políticas educacionais a partir de uma política governamental que foi discutida e debatida para gerar um documento e a partir dele gerar um projeto de lei ou uma lei que vai regimentar as necessidades da população, sendo assim o passo seguinte é buscar financiamentos para conseguir implantar a lei ou o projeto de lei. E para que a sociedade goze dos benefícios dos seus direitos é de suma importância que o governo pense no processo de estruturação e de fiscalização para que a lei saia do papel e passe a ser um direito garantido por lei.


[1] Acadêmico do curso de Letras.




VESTIDO DE NOIVA - RESENHA



VESTIDO DE NOIVA por Nelson Rodrigues.


Ronye Márcio Cruz de Santana 




 
RESUMO

Nelson Falcão Rodrigues nasceu em Recife e morre no Rio de Janeiro foi um jornalista e escritor tido como o mais influente dramaturgo brasileiro. Foi repórter policial durante longos anos, de onde acumulou uma vasta experiência para escrever suas peças a respeito da sociedade. Sua primeira peça foi A Mulher sem Pecado, que lhe deu os primeiros sinais de prestígio dentro do cenário teatral. O sucesso mesmo veio com Vestido de Noiva, que trazia, em matéria de teatro, uma renovação nunca vista nos palcos brasileiros. Com seus três planos simultâneos (realidade, memória e alucinação construíam a história da protagonista Alaíde), as inovações estéticas da peça iniciaram o processo de modernização do teatro brasileiro. A consagração se seguiria com vários outros sucessos, transformando-o no grande representante da literatura teatral do seu tempo, apesar de suas peças serem taxadas muitas vezes como obscenas e imorais.

INTRODUÇÃO

A peça de Nelson Rodrigues é uma obra inigualável, pois é recheada de suspense e um alto teor de dramaticidade e de uma construção surpreendente entre vários planos que se constitui em uma única história a de Alaíde.
O enredo do drama é algo inovador pelo fato de trazer personagens que estão presente no cotidiano de qualquer um. A genialidade do autor é representada pelo fato de que a história é contada e encenada em três atos e tem como peno de fundo a metrópoles – Rio de Janeiro – no qual o autor nos traz à tona toda imoralidade das capitais e as máscaras sociais que são desvendadas e discutidas pelas personagens durante a peça inteira.
No enredo, podem-se perceber as relações de poder e de dominação marcadas pela presença da manipulação da personagem Lúcia pelo marido de Alaíde, que o tempo todo fica de observador da própria ação tomada por ambas e como o desfecho acontece para depois ele tomar a decisão do que é conveniente a ele.
O teatro de Nelson é recheado de temas voltado para problemas sociais dentre elas a traição e o adultério. O tema é recorrente em toda peça teatral em que demonstra a paixão e a fantasia de Alaíde pela vida de Mme Clessi uma meretriz que ela teve acesso por meio de um diário que ela encontrou em sua casa que antes pertencia a Clessi.
O diário na mão de Alaíde despertou nela o desejo de poder e de sedução que ela passou experimentar esse poder tomando e seduzindo os namorados da irmã, que é Lúcia, que passa a tramar a morte da irmã com o cunhado para poderem viver o amor deles, contudo por conta do acidente deixa mais próximo a realização do sonho dos dois em viverem juntos.
O autor no ápice de sua criação demoNstrou que no período modernista podia se encontrar promissores escritores de peça teatrais com o mesmo teor dramático e recheado de suspense e de tramas conspiratórias.

CITAÇÕES - PRIMEIRO ATO

3ª MULHER - Sei lá! (noutro tom) Vem aos sábados.
ALAÍDE (aterrorizada) - Tem o rosto do meu marido. (recua, puxando a outra) A mesma cara!
3ª MULHER - Você é casada?
ALAÍDE (fica em suspenso) - Não sei. (...) (p. 02)

3ª MULHER (para Alaíde) - Isso é aliança?
ALAÍDE (mostrando o dedo) - É.
3ª MULHER (olhando) - Aliança de casamento
2ª MULHER - A da minha irmã é mais fina.
3ª MULHER (céptica) - Grossa ou fina, tanto faz. (dá passos de dança) (...) (p. 02)

ALAÍDE (modificando a atitude inteiramente) - Não, não sou nova. Não tinha me visto ainda?
O HOMEM (sério) - Não.
ALAÍDE (excitada, mas amável) - Pois admira. Estou aqui - deixe ver. Faz uns três meses... (...) (p. 02-03)

ALAÍDE (doce) - Viu como eu disse - "meu amor"! Eu direi outras vezes - "meu amor" - e coisas piores! Madame Clessi está demorando! (noutro tom) Mas ela morreu mesmo? (...) (p. 03)

(Luz no plano da memória. Aparecem pai e mãe de Alaíde.)
PAI (continuando a frase) - ...numa orgia louca."
MÃE - E tudo isso aqui?
PAI - Aqui, então?! (...) (p. 03)

CLESSI (forte) - Quer ser como eu, quer?
ALAÍDE (veemente) - Quero, sim. Quero.
CLESSI (exaltada, gritando) - Ter a fama que tive. A vida. O dinheiro. E morrer assassinada? (...) (p. 04)

ALAÍDE - Não disse? Mas se eu fugisse, se me transformasse numa Madame Clessi?
PEDRO - Sei lá, Alaíde! Sei lá! (...) (p. 06)

ALAÍDE (ficando de costas) - Gosto de outro.
PEDRO (apreensivo) - Alaíde! Olhe o que eu lhe disse!
ALAÍDE (acintosa) - Gosto, sim. Gosto de outro. Que é que está me olhando? (...) (p. 07)


PARECER

No plano da alucinação, tanto no da memória fica evidente o princípio de traição de Alaíde, ou no mínimo o desejo de trair o seu marido, contudo o que se vai elucidando é a traição de Alaíde em relação à irmã, pois Pedro era noivo de Lúcia que foi seduzido pela irmã se entregando e conseguindo roubar o noivo por meio da luxúria e do prazer.
Ao mesmo tempo em que ela deseja trair, mas a traição de Alaíde fica elucidada na peça no campo da alucinação, quando ela sempre enxerga o rosto do marido no rosto de todos os homens. Outro fator que reforça esse desejo é quando a Mme Clessi questiona se ela quer ser como ela, e Alaíde categoricamente, afirma que sim reforçando a ideia de traição. Em outro trecho a personagem conversa com o marido, no qual ela revela a intenção de adulterar, porem fica no campo de intenção presumindo sua traição por meio do desejo.

CITAÇÃO – SEGUNDO ATO

MULHER DE VÉU (excitada) - Então você pensa que podia roubar o meu namorado e ficar por isso mesmo?
ALAÍDE (entre suplicante e intimativa) - Você não vai fazer nada! (...) (p. 10)

MULHER DE VÉU - Quer dizer que não sabia que eu estava namorando Pedro?
ALAÍDE (mais indignada) - Aquilo, "namoro"?! Um flirt, um flirt à-toa!
MULHER DE VÉU (mais indignada) - Você quer dizer a mim que foi flirt. Quer-me convencer?
ALAÍDE (teimosa) - Foi.
MULHER DE VÉU (violenta) - E aquele beijo que ele me deu no jardim também foi flirt?
ALAÍDE - Sei lá de beijo! Que beijo?
MULHER DE VÉU - Está vendo como você é? Viu tudo! Você apareceu no terraço e entrou logo. Mas viu!
ALAÍDE (desesperada) - Eu não admito que você venha recordar essas coisas! Ele é meu noivo!
MULHER DE VÉU (perversa) - Viu ou não viu? (...) (p. 10)

MULHER DE VÉU (patética) - Pelo menos, nunca me casei com os seus namorados! Nunca fiz o que você fez comigo: tirar o único homem que eu amei! (com a possível dignidade dramática) O único!
ALAÍDE - Não tenho nada com isso! Ele me preferiu a você - pronto!
MULHER DE VÉU - Preferiu o quê? Você se aproveitou daquele mês que eu fiquei de cama, andou atrás dele, deu em cima. Uma vergonha! (...) (p. 11)

MULHER DE VÉU - Mas uma coisa só eu quero que você saiba. Você a vida toda me tirou todos os namorados, um por um.
ALAÍDE (irônica) - Mania de perseguição!
CLESSI (microfone) - Então você tirou os namorados da mulher de véu? (pausa para uma réplica de Alaíde que ninguém ouve) (...) (p. 11)

MULHER DE VÉU - Você roubou meus namorados. Mas vou roubar o marido. (acintosa) Só isso!
ALAÍDE (numa cólera reprimida) - Vá esperando!
(Alaíde volta para o espelho e a mulher de véu atrás.)
MULHER DE VÉU - Você vai ver. (noutro tom) Não é propriamente roubar.
ALAÍDE (irônica) - Então está melhorando. (...) (p. 12)

MULHER DE VÉU - Outra coisa: você está crente de que ele é só seu, não está?
(Silêncio superior de Alaíde.)
MULHER DE VÉU - Está mais do que crente, é claro! Pois olhe: sabe quem é esse namorado que eu arranjei? Tantas vezes vim conversar com você sobre ele! Contar cada passagem, meu Deus! (com ironia) pois olhe: esse namorado era seu noivo. Seu noivo, apenas!
ALAÍDE (cortante) - Mentira! Não acredito! (...) (p. 12)

PEDRO (curvando-se) - Um beijinho!
ALAÍDE (ainda olhando para o .espelho) - Você dá ou pede?
PEDRO - Peço.
ALAÍDE (com dengue) - Assim estraga a minha pintura. E, além disso... (Alaíde indica a mulher de véu.)
PEDRO (cínico) - Ela finge que não vê! (...) (p. 13)

MULHER DE VÉU - Tenho. (com perversidade) Tive. Ele vai-se casar com outra.
PEDRO - Então o homem é um vilão autêntico!
MULHER DE VÉU - É.
ALAÍDE (sardônica) - Não faz mal. Ela gosta dele assim mesmo.
MULHER DE VÉU - E gosto, sim. Ninguém tem nada com isso! (...) (p. 14)

MULHER DE VÉU (com amargura) - Amigas, nós? Oh! meu Deus! Como se pode ser tão cega! (noutro tom) Eu ir a esse casamento, quando eu é que devia ser a noiva!
MÃE (em pânico) - Você está doida?
MULHER DE VÉU (violenta) - Eu, sim senhora, eu!
MÃE (suspensa) - Você gosta de Pedro! (pausa; as duas se olham) Então é isso?
MULHER DE VÉU (sardônica) - A senhora pensava que fosse o quê? (...) (p. 15)

CLESSl (doce) - Irmãs e se odiando tanto! Engraçado - eu acho bonito duas irmãs amando o mesmo homem! Não sei - mas acho!...
ALAÍDE - Você acha?
CLESSI (a sério) - Acho. (...) (p. 16)

ALAÍDE - Eu queria ter amado um menino. O seu tinha 17 anos? (a outra confirma) Devia ser muito branco. (...) (p. 16)

VOZ DE LÚCIA (microfone, em crescendo) - Eu faço escândalo. Se eu disser uma coisa que sei!... Não me desafie, Alaíde! Eu é que devia ser a noiva! Você é um monstro! O único homem que eu amei! Nunca me casei com os seus namorados! O que eu não tive foi seu impudor! ...
(Ave-Maria atenuada. De repente surge Lúcia, correndo, vestida de noiva.)
LÚCIA - Pedro!
ALAÍDE - Você?
PEDRO - Ah, você, Lúcia! Até que enfim!
(Lúcia abraça-se a Pedro. Falam-se quase boca com boca.) (...) (p. 17)

LÚCIA (desprendendo-se de Pedro, gritando, com o punho erguido, como na saudação comunista) - Eu é que devia ser a noiva!...
ALAÍDE (excitadíssima, também com o punho erguido) - Mentirosa! Sua mentirosa! Roubei seu namorado e agora ele é meu! Só meu!
LÚCIA (com o punho erguido) - Confessou. Até que enfim! Pelo menos, diga, berre: "Roubei o namorado de Lúcia!!!..."
ALAÍDE (perturbada) - Não digo nada! Não quero! (...) (p. 17)

PEDRO (comovido) - Sou o marido dessa senhora que está sendo operada.
MÉDICO - Caso de atropelamento, não foi?
PEDRO (com angústia) - Sim, doutor. Foi atropelada na Glória. Só ainda agora é que eu soube. (...) (p. 17)

PARECER

No segundo ato o drama da Mulher de véu é exposto no momento em que Alaíde fica com crise de consciência por causa da presença constante dessa figura, contudo o que se percebe no decorrer do discurso apoiado pela Mme Clessi é que ela acaba descobrindo de a mulher é na verdade a sua irmã que a julga pelos excessos de luxúria e de manipulação dos namorados dela, por conta da forma infame que Alaíde vem fazendo durante todo o tempo em relação com os namorados de Lúcia. Contudo a relação entre Pedro e Alaíde é um casamento de fachada, em que sua relação é pautada na conveniência e não no amor, algo que nenhum dos dois sente um pelo outro.
A Mulher de véu argumenta sobre o amor e que sente pelo Pedro, porém um fator relevante é ela quer é mesmo se vingar de Alaíde que a roubou e essa relação entre amor e poder é fortemente marcado pela premissa de que uma pela honra renega o sexo e a outro pelo poder de sedução se entrega à luxúria e aos prazeres. Partindo aí a manifestação das mascaras sociais e da manipulação do ser pelo simples fato de dominar e cativar pelo prazer carnal. Alaíde desde que se apossou de diário de Clessi passou a desejar essa vida de prazeres e de luxo, em experimente a liberdade e a fluidez de vida. É no mundo da alucinação que a personagem principal vive o superego do que na realidade ela mantinha como escape no momento que ela conseguia se apoderar dos namorados da irmã.

CITAÇÃO – TERCEIRO ATO

LÚCIA (furiosa, punho erguido) - Diga bem alto, para todo o mundo ouvir: "Roubei o namorado de Lúcia."
ALAÍDE - Digo, sim!
LÚCIA - Diga, quero ver!
ALAÍDE (em alto e bom som) - Roubei o namorado de Lúcia!
LÚCIA (excitada) - Viu, Pedro! Ela disse! Não teve vergonha de dizer!
ALAÍDE (agressiva) - Digo quantas vezes quiser!
PEDRO (cínico) - Briguem à vontade! Não faz mal! (...) (p. 18)

ALAÍDE - Você sempre com esse negócio de tirou - tirou! (num transporte) É tão bom tirar o namorado das outras. (irônica) Então de uma irmã...
LÚCIA (vangloriando-se) - Você continua pensando que ele é só seu?
ALAÍDE - Penso, não. É.
LÚCIA. - Já lhe disse que é de nós duas, minha filha! Não quer acreditar - melhor!
PEDRO (para Lúcia) - Você não devia dizer isso! Alaíde não precisava saber! (...) (p. 18)

ALAÍDE (patética) - Quando eu morrer, eles vão-se casar, mamãe! Tenho certeza! (...) (p. 19)

CLESSI (chorando, despeitada) - Ashley pediu a mão de Melânie! Vai-se casar com Melânie!
MÃE (saliente) - Se eu fosse você, preferia Rett (noutro tom) Cem vezes melhor que o outro!
CLESSI (chorosa) - Eu não acho!
MÃE (sensual e descritiva) - Mas é, minha filha! Você viu como ele é forte? Assim! Forte mesmo! (...) (p. 20)

CLESSI (sonhadora) - Tenho chorado tanto! (noutro tom) Nunca tive um amor. É a primeira vez. A senhora, se já amou, compreenderá.
MÃE (perdendo a cabeça) - Indigna!
CLESSI (com a mesma doçura) - Eu sei que sou. Sei (rindo e chorando) Se a senhora visse como ele se zanga, quando eu falo no desembargador!
MÃE (tapando o rosto com a mão) - Meu filho metido com uma mulher desmoralizada! Conhecida!
CLESSI (no mesmo tom de abstração, senta-se) - Então quando eu boto dinheiro no bolso dele! (...) (p. 20)

ALAÍDE - Dá licença, Clessi? (para Pedro, de luto) Então, meu filho? (beijam-se)
PEDRO (admirado, confidencial) - Quem é ela?
ALAÍDE (como quem se escusa) - Ah! É mesmo! Me esqueci de apresentar! Clessi, Madame Clessi! Aqui, meu marido! (...) (p. 21)

ALAÍDE (exaltando-se) - Ela não é direita! E você é "direito" - é? Você pensa que eu não sei de nada? Pensa mesmo?
PEDRO (espantado) - Não sabe o quê?
ALAÍDE (excitada) - Que você e Lúcia... (ameaçadora) Sim, você e Lúcia! Andam desejando a minha morte! (...) (p. 21)

ALAÍDE - E nem digo - minha filha! Vou ter uma aventura! Pecado. Sabe o que é isso? Vou visitar um lugar e que lugar! Maravilhoso! Já fui lá uma vez! (...) (p. 21)

LÚCIA (sombria) - Só. Previa que ia morrer!
PEDRO (com certa ironia) - Isso também nós prevíamos.
LÚCIA - Você diz "nós"!
PEDRO (afirmativo) - Digo, porque você também previa. (pausa) Previa e desejava. Apenas não pensamos no atropelamento. Só.
LÚCIA (com desespero) - Foi você quem botou isso na minha cabeça - que ela devia morrer! (...) (p. 23)

PEDRO (sardônico) - Era louca por toda mulher que não prestava. Vivia me falando em Clessi. Uma desequilibrada!
LÚCIA (revoltada) - Você deve estar bêbedo para falar assim!
PEDRO (sério) - Ou louco... (grave) Não tenho o menor medo da loucura. (...) (p. 24)

PAI (microfone) - Que é que há com Lúcia e Pedro?
MÃE (microfone) - Que eu saiba, nada. Por quê?
PAI (microfone) - Você não viu ontem?
MÃE (microfone) - Aquilo?
PAI (microfone) - É. Foi esquisito.
MÃE (microfone) - Talvez tenha sido sem querer.
PAI (microfone) - Sem querer coisa nenhuma. (...) (p. 24)

LÚCIA - Aperta bem, mamãe.
LÚCIA - Está muito folgado aqui!
LÚCIA - Será que Pedro já chegou?
MÃE - D. Laura aparece, quando ele chegar.
LÚCIA (retocando qualquer coisa ao espelho) - Eu só quero que ele me veja lá na igreja. (...) (p. 25)

PARECER

No último ato Nelson Rodrigues discorre do fato dramático das personagens brigarem pelo mesmo homem que não dá atenção para nenhuma das duas o que ele quer simplesmente é poder possuir a Lúcia, pois ela negou se entregar e ele deseja intensamente estar com ela, mas para isso ele tinha que se livrar da Alaíde. O fato relevante é que Alaíde também acaba descobrindo que a mãe sabe das intenções de Lúcia o que os pais não previam era que ela estava tramando a morte de Alaíde.
No mundo da alucinação de Alaíde a Mme Clessi discute com a mãe do seu amante que o garoto de 17 anos, justamente o seu assassino, porém o que revela a intenção do garoto é ter um amor eterno sendo selado pela morte e pela cumplicidade de ambos. Mais adiante Lúcia e Pedro discutem sobre os modos de Alaíde e como ela se deixou influenciar pelo diário de Mme. Clessi e o encanto que ele exercia sobre os atos de Alaíde. Em relação à família os pais cogitam o flerte entre Lúcia e Pedro e como isso poderia ser bom, pois manteria o status de poder e de influencia social.


PARECER CRÍTICO

A obra Vestido de Noiva foi um marco no teatro brasileiro, pois trouxe a tona prodígios na construção das artes cênicas no panorama social, pois vem recheado das críticas sociais e das mascaras que cada um vem utilizando para construir a sua personalidade no meio social em que se está inserido. O principal objetivo de Nelson foi mostrar que a sociedade carioca também possui as suas mazelas e que as utiliza para se esconder no bojo da ética e da moral, para que mostre a todos que são iguais, comuns, no entanto um exemplo a ser seguido como parâmetro social e moral.
Nelson Rodrigues foi hábil no limiar da dramaticidade em relação as construções das tramas dos personagens e dramático na linha cronológica da história de Alaíde que sofre desde o acidente no início da peça e que perpassa por três dimensões que vai da alucinação, memória e a realidade que é a forma como o marido a despreza e como a família a descarta como fosse um peso a sua moralidade, incentivando a Lúcia a se casar com Pedro para manter as convenções sociais em que a família está inserida.
Enquanto obra contribui para a compreensão das relações de poder e de sedução que estão inseridas na sociedade. O autor desmascara cada camada social em relação a sua problemática e como cada um se beneficia com as relações de dependência e de manipulação de cada indivíduo. A obra traz à tona a relação e a distinção entre adultério e traição, que é o caso de Alaíde quando traí a irmã, e o adultério de Pedro com as prostitutas e com a Lúcia. Ainda na peça o escritor revela a sua veia policial quando descreve a trama do planejamento de assassinato, da conspiração da irmã e do marido e do apoio conivente da família por fechar os olhos para a situação que estava ocorrendo e deixou tudo acontecer como algo normal.
Esta obra foi importante para o meu curso porque contribuiu para a construção da análise de ideia e de percepção dos fatos sociais, e no seu estudo contribuiu para uma consciência de liberdade da imaginação e de racionalidade da construção dos fatos que nos cerca.
Enquanto para a sociedade a peça foi relevante para desvendar as ideologias existentes que há em todo nível social. E é nesse patamar que reconheço a importância da peça Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues, pois terá o véu que encobre os políticos, os empresários, os comerciantes e toda a aristocracia brasileira de forma crua, direta e crítica.
Era tudo que se esperava de Nelson, pois ele tinha uma veia crítica, política, jornalística e, acima de tudo, denunciante dos sistemas sociais e da política partidarista.